Nesse semestre, por conta de problemas técnicos da faculdade, tivemos que adiar o ultimo atendimento, e com isso, adiar a síntese provisória. Nos foi enviado um arquivo com 10 QA's para serem respondidas e postadas nesse portifólio. Assim, deixo aqui as QA's e as respostas de cada uma delas:
1. Durante o exame físico do abdome, quais estratégias de comunicação clínica devem ser utilizadas para garantir um ambiente de segurança, respeito e confiança com o paciente?
Durante o exame físico do abdome, utilizar estratégias de comunicação clínica centradas no paciente é fundamental para garantir um ambiente de segurança, respeito e confiança. A primeira atitude essencial é obter consentimento verbal, que de ser acompanhada de uma explicação clara e objetiva sobre os procedimentos que serão realizados. O médico deve informar o paciente sobre cada etapa do exame, sua finalidade e o que se espera observar, promovendo assim um cenário de transparência, respeito à autonomia e redução da ansiedade.
A linguagem corporal do examinador também exerce um papel crucial nesse contexto. Uma postura acolhedora, o contato visual sereno, o uso de um tom de voz calmo e gestos cuidadosos reforçam a empatia e ajudam a criar um clima terapêutico favorável. O médico deve ainda respeitar o espaço íntimo do paciente, garantindo a privacidade adequada e utilizando vestimentas limpas e apropriadas, o que contribui para a percepção de profissionalismo e confiança.
Outro aspecto relevante é o manejo adequado da dor e do desconforto durante o exame. Ao realizar a palpação, é importante observar os sinais não verbais emitidos pelo paciente, como expressão facial, contração muscular involuntária ou suspensão da respiração. Nesses casos, o médico deve questionar o paciente ativamente sobre a dor e adaptar sua técnica conforme a resposta, seja reduzindo a intensidade da pressão aplicada, seja interrompendo momentaneamente a manobra. Essa sensibilidade à resposta do paciente não apenas demonstra respeito e humanidade, mas também contribui para um exame mais eficaz, pois favorece o relaxamento da musculatura abdominal — condição essencial para a acurácia semiológica.
A comunicação clínica eficaz durante o exame abdominal não apenas protege a integridade física e emocional do paciente, mas também potencializa os resultados do exame físico, uma vez que um paciente bem orientado e confiante tende a colaborar melhor e relatar com mais clareza seus sintomas. Assim, a relação médico-paciente é fortalecida e a consulta torna-se mais resolutiva e humanizada.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
MARCONDES FILHO, J. Semiologia Clínica. 9. ed. Barueri: Manole, 2013.
2. Como uma anamnese bem conduzida pode orientar e qualificar a
realização do exame físico do abdome?
Uma boa anamnese tem um papel fundamental para guiar e qualificar o exame físico do abdome. Ao ouvir com atenção o que o paciente relata, principalmente sobre as características da dor abdominal, o médico pode planejar melhor quais regiões deve examinar com mais cuidado e quais manobras específicas deve realizar. Por exemplo, se o paciente relata uma dor localizada no quadrante inferior direito, que começou de forma súbita e piora com o movimento, isso pode indicar apendicite. Nesse caso, o exame físico será direcionado para essa região, usando manobras como o sinal de Blumberg, a palpação profunda e os testes específicos para apendicite.
Outros exemplos também ajudam a mostrar essa relação. Uma dor na parte alta do abdome, em queimação, que melhora com a alimentação, pode sugerir úlcera gástrica. Nesse caso, o exame físico vai incluir palpação mais atenta na região epigástrica. Já uma dor no lado direito do abdome, que piora após refeições gordurosas, pode indicar problema na vesícula, como a colecistite. Isso justifica o uso da manobra de Murphy e a observação de outros sinais associados.
Além disso, a anamnese ajuda a adaptar a ordem e a intensidade do exame físico. Em situações de dor intensa, por exemplo, é importante começar com a inspeção e a ausculta, deixando a palpação mais para o final, de forma cuidadosa e progressiva, sempre respeitando o local de maior sensibilidade informado pelo paciente. Do mesmo modo, se a história indica doenças crônicas ou cirurgias anteriores, o médico já estará atento a alterações anatômicas que podem interferir no exame.
Com isso, fica claro que a anamnese não só antecede o exame físico, mas também direciona e melhora sua qualidade. Ela ajuda a evitar manobras desnecessárias, reduz o desconforto do paciente e permite um raciocínio clínico mais eficiente e preciso.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
RANGEL, E. Semiologia Clínica – A Arte do Diagnóstico. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014.
3. Descreva as etapas do exame físico abdominal em sua ordem correta,
justificando a importância de cada uma delas.
O exame físico do abdome deve seguir uma ordem lógica e bem estabelecida: inspeção, ausculta, percussão e palpação. Essa sequência é importante porque ajuda a evitar erros e garante que o exame seja feito de forma completa e segura para o paciente.
A inspeção é sempre o primeiro passo. O médico observa o abdome sem tocar, avaliando a presença de cicatrizes, distensão, movimentos respiratórios, assimetrias, ondulações ou pulsos visíveis. Também é possível identificar hérnias, massas ou sinais de inflamação. Essa etapa é importante porque já pode dar pistas sobre o que será encontrado nas próximas fases e permite avaliar o estado geral do abdome sem interferências.
Em seguida, é feita a ausculta, antes de qualquer tipo de palpação ou percussão, justamente para evitar alterações nos sons intestinais causadas pelo toque. Com o estetoscópio, o médico escuta os ruídos hidroaéreos — sons gerados pelo trânsito de ar e líquido no intestino —, além de sopros vasculares ou sons ausentes. A presença, ausência ou alteração desses sons pode indicar condições como íleo paralítico, obstrução intestinal ou aumento do fluxo em vasos.
Depois, vem a percussão, que permite avaliar se a região está com som normal (timpânico), mais maciço ou com som alterado. Através dela, o médico pode estimar o tamanho de órgãos como o fígado e o baço, procurar por líquido livre (ascite) e delimitar massas abdominais. A percussão também ajuda a localizar áreas dolorosas antes da palpação, o que contribui para que o exame seja feito com menos desconforto para o paciente.
Por fim, realiza-se a palpação, sempre começando de leve e longe da área de dor. Ela serve para identificar dor, massas, órgãos aumentados, rigidez muscular ou sinais de irritação peritoneal. Essa etapa exige cuidado, especialmente se o paciente estiver com dor intensa, pois uma palpação agressiva pode piorar o quadro clínico ou gerar desconforto desnecessário.
Seguir essa ordem ajuda a garantir que o exame seja feito de forma sistemática, sem deixar etapas importantes de lado. Além disso, diminui o risco de provocar alterações artificiais nos achados, o que pode comprometer o diagnóstico. Em casos de dor intensa ou suspeita de abdome agudo, dois achados que merecem atenção logo no início da avaliação são a rigidez involuntária da parede abdominal e a ausência de ruídos hidroaéreos, que podem indicar um processo grave e com necessidade de intervenção urgente.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
MARCONDES FILHO, J. Semiologia Clínica. 9. ed. Barueri: Manole, 2013.
4. Explique a razão da sequência clássica de inspeção → ausculta → percussão → palpação no exame físico do abdome.
A sequência clássica do exame físico do abdome — inspeção, ausculta, percussão e palpação — tem uma razão prática e fisiológica. Essa ordem não é aleatória: ela existe para garantir que o médico obtenha informações confiáveis, sem interferir nos sinais que o corpo apresenta naturalmente.
A ausculta deve ser feita antes da palpação e da percussão porque qualquer estímulo mecânico sobre o abdome, como tocar ou pressionar a parede abdominal, pode alterar temporariamente os sons intestinais. Esses ruídos, chamados de ruídos hidroaéreos, são produzidos pela movimentação do ar e dos líquidos dentro do intestino. Quando o médico começa a palpar ou percutir antes de escutá-los, pode acabar induzindo movimentos peristálticos que não estavam presentes antes, criando uma falsa impressão de atividade intestinal normal. Em outras palavras, ele pode escutar sons que foram provocados pela própria manipulação, e não pelos movimentos intestinais espontâneos.
Além disso, a palpação feita antes da ausculta pode causar desconforto ou dor no paciente, fazendo com que ele contraia a musculatura abdominal. Isso atrapalha a ausculta e também pode prejudicar as etapas seguintes do exame. A percussão, por sua vez, altera a pressão intra-abdominal e pode também modificar temporariamente o padrão dos sons.
Por isso, respeitar essa sequência ajuda o médico a interpretar corretamente os sinais e evita conclusões erradas. Essa lógica é especialmente importante em casos de abdome agudo, obstrução intestinal ou íleo paralítico, nos quais a ausência ou alteração dos ruídos pode ter grande valor diagnóstico. Assim, auscultar antes de tocar garante que o exame seja mais preciso e menos invasivo.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
MARCONDES FILHO, J. Semiologia Clínica. 9. ed. Barueri: Manole, 2013.
5. Quais achados do exame físico podem sugerir um quadro de abdome agudo?
O abdome agudo é uma situação clínica grave, caracterizada por dor abdominal intensa, de início súbito, que pode indicar uma condição cirúrgica. Durante o exame físico, alguns sinais ajudam a identificar essa urgência e devem ser avaliados com atenção, pois orientam a conduta médica imediata.
Um dos principais achados é a dor à descompressão brusca, conhecida como sinal de Blumberg. Ela é avaliada comprimindo suavemente o abdome e soltando de forma rápida. Se o paciente sentir dor mais intensa ao soltar a mão do que durante a pressão, esse é um forte indicativo de irritação peritoneal, comum em condições como apendicite, peritonite ou perfuração de víscera oca.
Outro sinal importante é a rigidez involuntária da parede abdominal, que consiste na contração dos músculos do abdome mesmo quando o paciente está relaxado. Diferente da defesa voluntária, que desaparece quando o paciente se tranquiliza, a rigidez involuntária é um sinal de peritonite e indica processo inflamatório mais avançado.
Também merece destaque a ausência de ruídos hidroaéreos, ou seja, a paralisação dos sons intestinais. Isso pode acontecer em casos de íleo paralítico ou obstrução intestinal grave, situações em que o intestino deixa de funcionar normalmente por inflamação intensa, perfuração, isquemia ou outras causas.
Além desses, podem estar presentes distensão abdominal, dor localizada muito intensa, taquicardia, hipotensão e sinais sistêmicos como febre ou sudorese. Todos esses achados sugerem que o quadro é potencialmente grave e que o paciente precisa de avaliação rápida, com exames complementares e, muitas vezes, intervenção cirúrgica.
Reconhecer esses sinais durante o exame físico é essencial para definir a urgência do caso e evitar atrasos que possam colocar a vida do paciente em risco.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
RANGEL, E. Semiologia Clínica – A Arte do Diagnóstico. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014.
6. Quais são as principais técnicas utilizadas para palpação do fígado no exame físico abdominal geral?
A palpação do fígado é uma das etapas mais importantes do exame físico abdominal, especialmente quando há suspeita de hepatomegalia ou outras alterações hepáticas. As principais técnicas utilizadas para essa avaliação são: Lemos-Torres, Mathieu e a técnica bimanual.
Na técnica de Lemos-Torres, o paciente deve estar em decúbito dorsal, com as pernas semifletidas para facilitar o relaxamento da musculatura abdominal. O examinador posiciona sua mão direita abaixo do rebordo costal direito e a esquerda nas costas do paciente, na altura da última costela. Durante a inspiração profunda, o fígado, se estiver aumentado ou palpável, desce e pode ser sentido como uma borda firme que toca os dedos da mão direita. Essa é uma técnica simples, muito usada em prática clínica, especialmente útil em pacientes magros.
A técnica de Mathieu também é realizada com o paciente em decúbito dorsal. O examinador senta-se à direita do paciente e utiliza a mão esquerda com os dedos fletidos em gancho, posicionando-os sob o rebordo costal direito. Durante a inspiração, o fígado pode ser sentido contra os dedos. Essa técnica exige um pouco mais de prática e pode ser mais eficaz em pacientes com abdome flácido.
Já a técnica bimanual, bastante difundida, consiste em usar as duas mãos de forma coordenada. A mão esquerda é colocada sob o dorso do paciente, elevando suavemente a região do fígado, enquanto a mão direita, sobre o abdome, realiza a palpação durante a inspiração. Essa técnica permite melhor sensibilidade e profundidade, sendo especialmente útil em pacientes com sobrepeso.
Cada técnica tem suas vantagens e limitações. A de Lemos-Torres é simples e rápida, mas pode ser pouco eficaz em pacientes obesos ou com musculatura abdominal tensa. A de Mathieu permite melhor controle da força aplicada, mas é menos confortável para o examinador. A técnica bimanual oferece melhor avaliação da borda hepática e é mais sensível em casos de hepatomegalia leve, mas exige maior habilidade e colaboração do paciente.
A palpação do fígado torna-se mais sensível e necessária em contextos clínicos como hepatites, cirrose, insuficiência cardíaca direita, tumores hepáticos e doenças hematológicas. Nesses casos, o fígado pode estar aumentado, endurecido ou com borda irregular, e esses achados ajudam a orientar a investigação diagnóstica.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
RANGEL, E. Semiologia Clínica – A Arte do Diagnóstico. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014.
7. Quais são as principais técnicas utilizadas para palpação do baço no exame físico abdominal geral?
A palpação do baço é um exame importante, especialmente quando há suspeita de esplenomegalia. Em condições normais, o baço não é palpável, por isso, sua detecção durante o exame já é um achado significativo. As técnicas mais utilizadas para essa avaliação são a técnica bimanual de Middleton e a palpação em decúbito lateral (posição de Schuster).
Na técnica bimanual de Middleton, o paciente permanece em decúbito dorsal, com os braços ao lado do corpo e as pernas ligeiramente flexionadas. O examinador se posiciona do lado direito do paciente e usa ambas as mãos: a mão esquerda é colocada sob a região lombar esquerda, para elevar o flanco, enquanto a mão direita é posicionada na parte inferior do abdome esquerdo, logo abaixo do rebordo costal. Durante a inspiração profunda, o baço — se estiver aumentado — pode descer e ser sentido pela mão direita. O movimento deve ser suave e repetido progressivamente em direção ao rebordo costal, se necessário.
Na posição de Schuster, o paciente é colocado em decúbito lateral direito, com a perna esquerda flexionada sobre a direita e o braço esquerdo estendido sobre o tórax. Essa posição facilita o deslocamento do baço para frente e para baixo, favorecendo sua palpação. O examinador utiliza a mão direita para palpar o quadrante superior esquerdo, buscando sentir a borda esplênica durante a inspiração. A mão esquerda pode ser usada para estabilizar o dorso.
O baço é considerado palpável quando se percebe uma estrutura firme, móvel com a respiração, que desliza sob os dedos e tem consistência semelhante à de uma borracha. A borda costuma ser lisa, e seu deslocamento é oblíquo, do alto para baixo e da esquerda para a direita. Quando o baço está muito aumentado, pode ocupar grande parte do abdome.
A palpação esplênica é mais sensível em casos de esplenomegalia significativa, como em doenças hematológicas (ex: leucemias, linfomas), infecções (como mononucleose), cirrose com hipertensão portal e doenças infecciosas crônicas (como malária ou leishmaniose). Em adultos, a palpação do baço pode ter limitações, principalmente em pacientes com abdome rígido, obesidade ou musculatura abdominal tensa, o que dificulta a identificação do órgão.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
MARCONDES FILHO, J. Semiologia Clínica. 9. ed. Barueri: Manole, 2013.
8. Explique o que é a hepatimetria e como ela deve ser realizada durante o exame físico abdominal.
A hepatimetria é a técnica usada para estimar o tamanho do fígado por meio da percussão do abdome. Ela é útil para identificar se o fígado está com seu volume dentro do esperado ou se há sinais de hepatomegalia (aumento) ou deslocamento do órgão. A realização correta da hepatimetria ajuda o médico a orientar hipóteses clínicas e a decidir se há necessidade de exames complementares.
Para fazer a hepatimetria, o paciente deve estar em decúbito dorsal, com o corpo relaxado e os braços ao lado do corpo. O examinador se posiciona à direita do paciente e inicia a percussão no relevo torácico, sobre a linha hemiclavicular direita. A percussão deve começar na parte superior do tórax, onde o som é claro pulmonar (tímpano), e descer lentamente até que o som mude para submaciço ou maciço, indicando a presença do fígado.
O limite superior do fígado é geralmente encontrado entre o 5º e 6º espaços intercostais, enquanto o limite inferior costuma estar próximo ao rebordo costal direito, na mesma linha hemiclavicular. O som timpânico do pulmão dá lugar ao som submaciço do fígado, e mais abaixo pode surgir novamente o som timpânico das alças intestinais. A distância entre os dois limites (superior e inferior) dá a medida aproximada do lobo direito do fígado, que normalmente varia entre 6 e 12 cm nessa linha.
É importante treinar o ouvido para distinguir os sons: o som timpânico é mais claro e “oco”, típico de pulmão e alças intestinais, enquanto a submacicez hepática tem um som mais “cheio” ou abafado. Se feita com técnica cuidadosa, a hepatimetria pode revelar alterações importantes, mesmo em pacientes sem sintomas evidentes.
Essa manobra deve ser feita de forma sistemática, sempre nas mesmas referências anatômicas, para permitir comparações confiáveis ao longo do tempo. Apesar de não substituir exames de imagem como a ultrassonografia, a hepatimetria continua sendo uma ferramenta útil na propedêutica clínica.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
RANGEL, E. Semiologia Clínica – A Arte do Diagnóstico. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014.
9. Quais alterações clínicas podem ser sugeridas por uma hepatimetria aumentada ou diminuída?
A hepatimetria, quando alterada, pode sugerir diferentes condições clínicas. Quando o tamanho do fígado está aumentado à percussão (hepatimetria aumentada), geralmente indica que o fígado está realmente volumoso — o que chamamos de hepatomegalia. Já quando a área de submacicez está reduzida, pode não significar que o fígado está menor, mas sim que seu espaço foi encoberto por gás ou líquido, o que interfere na percussão.
Uma das causas mais comuns de hepatimetria aumentada é a hepatomegalia verdadeira, que pode ocorrer em várias situações clínicas. Por exemplo, nas hepatites virais agudas, o fígado aumenta de tamanho por inflamação e congestão. Em doenças como cirrose hepática na fase inicial ou em neoplasias hepáticas, também pode haver aumento do fígado, muitas vezes acompanhado de borda endurecida e irregular à palpação. Em insuficiência cardíaca direita, o fígado pode estar aumentado por congestão venosa crônica, com consistência amolecida e dor à palpação.
Por outro lado, a hepatimetria aparentemente diminuída pode ocorrer em casos de enfisema pulmonar. Nessa doença, os pulmões ficam hiperinsuflados e empurram o diafragma para baixo, fazendo com que o fígado também seja rebaixado. Isso reduz a área de submacicez à percussão, dando a falsa impressão de que o fígado está pequeno, quando na verdade foi apenas deslocado. Outro exemplo é o derrame pleural direito, em que o líquido acumulado na cavidade torácica pode cobrir a área do fígado e impedir a percussão normal da submacicez hepática.
Essas alterações nos limites hepáticos influenciam diretamente na formulação das hipóteses diagnósticas. Quando há hepatimetria aumentada, o médico deve pensar em causas inflamatórias, vasculares ou tumorais. Já quando a área hepática parece reduzida ou encoberta, é importante investigar alterações pulmonares ou torácicas que estejam interferindo na avaliação.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
RANGEL, E. Semiologia Clínica – A Arte do Diagnóstico. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014.
10. As manobras especiais do exame abdominal auxiliam na diferenciação de síndromes clínicas e em decisões diagnósticas.
a) Explique como se realiza a manobra de Murphy e qual sua implicação clínica quando positiva. Em que situação esse sinal é esperado e o que ele indica?
A manobra de Murphy é usada para investigar dor e inflamação na vesícula biliar, sendo especialmente útil quando se suspeita de colecistite aguda. Ela é simples de executar e tem boa sensibilidade clínica.
Para realizá-la, o paciente deve estar em decúbito dorsal, com o abdome relaxado. O examinador posiciona os dedos da mão direita logo abaixo do rebordo costal direito, na linha hemiclavicular (região onde se localiza o fundo da vesícula biliar). Em seguida, solicita que o paciente faça uma inspiração profunda, enquanto mantém leve pressão nessa região.
Se o paciente interrompe bruscamente a inspiração por dor quando o fígado e a vesícula descem e tocam os dedos do examinador, a manobra é considerada positiva. Esse sinal indica que há dor à compressão da vesícula biliar, o que é sugestivo de inflamação aguda — ou seja, colecistite aguda.
A positividade da manobra de Murphy tem importância clínica porque ajuda a diferenciar a colecistite de outras causas de dor no quadrante superior direito do abdome, como hepatites, abscesso hepático ou até mesmo dor referida de pneumonia de base direita. Embora a ultrassonografia seja o exame complementar de escolha, o Murphy clínico continua sendo uma ferramenta útil na prática médica, principalmente na triagem inicial.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
RANGEL, E. Semiologia Clínica – A Arte do Diagnóstico. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014.
b) Descreva o sinal de Blumberg. Como é realizado? O que sua positividade indica em termos de processo inflamatório intra-abdominal?
O sinal de Blumberg é utilizado para detectar irritação peritoneal, uma condição que ocorre quando há inflamação do peritônio parietal, geralmente em situações graves como apendicite aguda, peritonite, perfuração de víscera oca ou outras causas de abdome agudo inflamatório.
Para realizar a manobra, o paciente deve estar em decúbito dorsal, com o abdome relaxado. O examinador pressiona de forma lenta e profunda a parede abdominal, geralmente na região de maior dor referida pelo paciente. Após alguns segundos, o examinador retira a mão de forma rápida e brusca. O teste é considerado positivo quando o paciente relata dor mais intensa no momento da retirada da mão do que durante a compressão.
A dor à descompressão indica que o peritônio está inflamado e sensível, reagindo ao movimento súbito de distensão após a pressão. A presença do sinal de Blumberg é, portanto, um indicativo de inflamação peritoneal localizada ou difusa, e sua positividade reforça a necessidade de investigação rápida, já que pode representar uma condição cirúrgica urgente.
É importante realizar essa manobra com cuidado e apenas quando necessário, especialmente em pacientes com dor intensa, para evitar sofrimento desnecessário ou piora do quadro clínico.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
MARCONDES FILHO, J. Semiologia Clínica. 9. ed. Barueri: Manole, 2013.
c) Cite o que avalia o sinal de Rovsing. Como ele é realizado e em qual contexto clínico sua positividade é relevante?
O sinal de Rovsing é uma manobra utilizada para avaliar a presença de irritação peritoneal no quadrante inferior direito, mesmo que a pressão seja exercida em outro ponto do abdome. Ele é especialmente útil no contexto de suspeita de apendicite aguda, principalmente quando o apêndice está em posição pélvica ou retrocecal.
Para realizá-lo, o paciente deve estar em decúbito dorsal e relaxado. O examinador pressiona de forma profunda e lenta o quadrante inferior esquerdo do abdome, e observa a reação do paciente. A manobra é considerada positiva quando essa compressão no lado esquerdo provoca dor no lado direito, mais especificamente na fossa ilíaca direita.
Essa dor ocorre porque o deslocamento do conteúdo intestinal, provocado pela pressão no lado esquerdo, estira o peritônio inflamado do lado direito, onde se localiza o apêndice. A positividade do sinal de Rovsing, portanto, indica irritação peritoneal secundária à apendicite e é mais um elemento que, somado a outros sinais e sintomas, fortalece a hipótese diagnóstica.
Embora não seja um sinal isoladamente decisivo, o Rovsing tem valor dentro do conjunto de achados semiológicos que compõem o raciocínio clínico no abdome agudo.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
RANGEL, E. Semiologia Clínica – A Arte do Diagnóstico. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2014.
d) Explique a manobra do psoas e do obturador. Em que hipótese diagnóstica essas manobras são utilizadas e como elas contribuem para a confirmação de apendicite retrocecal?
As manobras do psoas e do obturador são utilizadas principalmente para investigar apendicite aguda, especialmente quando o apêndice está localizado em posições menos típicas, como retrocecal ou pélvica. Nessas situações, a dor pode não estar bem localizada na fossa ilíaca direita, tornando necessário o uso de manobras que estimulem a musculatura em contato com o apêndice inflamado.
A manobra do psoas é feita com o paciente em decúbito dorsal. O examinador coloca a mão sobre o joelho direito do paciente e solicita que ele eleve a perna contra a resistência. Outra variação é feita com o paciente em decúbito lateral esquerdo, enquanto o médico estende passivamente a perna direita do paciente para trás. Ambas as versões estiram o músculo psoas, que está próximo ao apêndice em posição retrocecal. Se essa manobra provocar dor na região lombar direita ou fossa ilíaca direita, ela é considerada positiva. Isso sugere irritação do psoas pelo apêndice inflamado.
Já a manobra do obturador é feita com o paciente em decúbito dorsal, com o quadril e joelho direitos fletidos a 90 graus. O examinador segura a perna do paciente e realiza movimentos de rotação interna e externa do quadril. Se isso provocar dor no hipogástrio ou fossa ilíaca direita, o sinal é positivo. A explicação é que o músculo obturador interno, ao ser alongado ou contraído, entra em contato com o apêndice inflamado em posição pélvica.
Essas duas manobras são complementares e aumentam a sensibilidade semiológica na suspeita de apendicite em localizações atípicas. Embora não substituam exames de imagem, como a ultrassonografia ou a tomografia, são ferramentas clínicas valiosas no raciocínio diagnóstico.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
MARCONDES FILHO, J. Semiologia Clínica. 9. ed. Barueri: Manole, 2013.
e) Descreva a manobra de Giordano. Como ela é realizada e o que sua positividade indica em relação à anatomia e função renal?
A manobra de Giordano, também chamada de sinal de punho-percussão lombar, é utilizada para investigar processos inflamatórios ou infecciosos que envolvam os rins, especialmente nos casos de pielonefrite aguda ou nefrolitíase (cálculo renal).
Para realizá-la, o paciente pode estar em posição sentada ou em pé, com as costas voltadas para o examinador. Este posiciona a mão espalmada sobre a região lombar, geralmente no ângulo costovertebral, entre a 12ª costela e a coluna vertebral. Com a outra mão, o médico dá um leve golpe com a face ulnar do punho sobre a mão espalmada, como se fosse uma percussão indireta.
A manobra é considerada positiva quando o paciente sente dor intensa ou repentina no local da percussão. Esse achado indica que há inflamação ou distensão da cápsula renal, que normalmente é indolor ao toque. A positividade sugere envolvimento renal, sendo um achado clássico na pielonefrite aguda, mas também pode ocorrer em obstruções urinárias, hidronefrose ou trauma renal.
Vale lembrar que a dor provocada deve ser bem localizada, e que a manobra não deve ser confundida com dor lombar mecânica ou muscular. Além disso, o sinal de Giordano é infrequentemente positivo em condições leves, sendo mais comum em processos infecciosos mais importantes, quando o rim está sensível à manipulação.
Fontes:
JÚNIOR, J. S. F. Semiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
MARCONDES FILHO, J. Semiologia Clínica. 9. ed. Barueri: Manole, 2013.