Como disse anteriormente, não pude participar da síntese dessa SP, porém meus estudos em casa e trouxe para a sala na próxima aula as QA' s respondidas e compartilhei minhas respostas coma turma. Esta será a única SP que não irei escrever aqui os problemas e as hipóteses que foram desenvolvidas pelas minhas colegas de sala, irei somente postar a foto que eles me enviaram. O motivo dessa mudança? Honestamente, preguiça de escrever tudo, ja que não as digitei na hora. Porém como desculpa irei dizer que quero fazer um teste de como irá ficar com a imagem. Mas vocês sabem que é só uma desculpa neh?: hehe.
SP 3.4 – A coisa está ficando difícil...
Valter Quila, 52 anos, um alcoólatra conhecido, foi trazido à emergência pela proprietária da pensão em que ele mora, que relatou que ele bebeu muito na última semana. Durante esse tempo, seu apetite diminuiu gradualmente e ele não tinha se alimentado adequadamente nos últimos três dias. Durante a consulta, ele estava confuso, agressivo, trêmulo e suando profusamente. Sua fala era incompreensível. A frequência cardíaca estava rápida (126 bpm). Apresentava-se ainda levemente ictérico e edemaciado. Quando a pressão sanguínea estava sendo determinada, ele teve uma convulsão. A glicose sanguínea, medida pouco antes do início da convulsão, era de 40 mg/dl (normal: 70 a 99 mg/dl). O etanol sanguíneo medido no mesmo tempo era de 295 mg/dl (nível de intoxicação – estado confuso: 150-300 mg/dl). Desenvolveu acidose metabólica moderada, sendo liberado no quarto dia de internação após avaliação metabólica e realização de tomografia computadorizada cerebral, sem alterações. Acompanhamento não revelou sequelas. Após algumas semanas, voltou ao mesmo hospital atendido anteriormente com queixa de dor intensa no joelho esquerdo e no hálux, o qual se encontrava hiperemiado e edemaciado há 3 dias. Em seus antecedentes, destacava apenas 1 episódio anterior de dor articular, que desaparecera sem tratamento após 2 dias de duração. Exames laboratoriais da urina de 24 horas apresentaram: pH da urina: 4,5; Ácido Úrico: 1,52 g (normal: 300-800 mg/urina de 24 horas) e Ácido Úrico plasmático: 11,8 mg/dl (normal: 2,5-8,0 mg/dl). O tratamento medicamentoso preconizado foi utilização de Colchicina e Alopurinol (Zyloric).
Hehe, pior que ficou bunitnho, deveria ter feito assim desde o início. Bem, a seguir, irei apresentar minhas respostas:
QA’s:
1- O que é gota? Causas e Consequências.
2- Quais processos metabólicos ocorrem após jejum prolongado e consumo excessivo de álcool? E sem jejum?
3- Para que servem e como funcionam os medicamentos colchicina e alopurinol?
4- Como é formado o ácido úrico no organismo e qual a sua importância?
5- Qual a relação da icterícia com o consumo excessivo de álcool?
Respostas:
1- A Gota é uma doença causada pela deposição de cristais de ácido úrico, geralmente associada à hiperuricemia. Em geral, inicia com monoartrite aguda intermitente, especialmente da primeira articulação metatarsofalangiana. O mecanismo patogenético básico da gota é um aumento dos níveis totais de urato no corpo. Isso é evidenciado por hiperuricemia, definida por concentração sérica de urato acima de 6,8 mg/dL. O limite de 6,8 mg/dL é importante porque os líquidos com teores de urato maiores que este ficam supersaturados e esta condição favorece a precipitação dos cristais de urato. A gota acomete preferencialmente homens, com pico de incidência na quinta década de vida. A incidência dessa doença entre as mulheres é praticamente igual à dos homens depois da idade de 65 anos. O início da doença antes da idade adulta, nos homens, ou antes da menopausa, nas mulheres, é muito rara e quase sempre está relacionado com um erro inato do metabolismo, ou a um distúrbio congênito. A hiperuricemia pode ser causada pela produção aumentada de urato, pela excreção reduzida de ácido úrico pelos rins, ou por uma combinação destes dois mecanismos. Menos de 5% dos pacientes com gota têm hiperuricemia causada pela produção excessiva de urato. Quando os pacientes têm hiperuricemia, existem condições propícias à precipitação dos cristais de urato nas articulações e nos tecidos periarticulares. Se não for tratada, a precipitação de cristais continua a formar agregados cristalinos cada vez maiores, que são conhecidos como “tofos”. A crise de gota começa depois que os monócitos e os sinoviócitos fagocitam cristais de urato. Os cristais de urato livres são fagocitados e ativam os monócitos. Dentro dessas células, os cristais são processados pelos receptores Toll-like, resultando na síntese de pré-IL-1. Os inflamossomos NALP-3 também são ativados e isto resulta na síntese de caspa- se-1, conversão da pré-IL-1 em IL-1 e produção de várias outras citocinas, moléculas de aderência e fatores quimiotáxicos. O resultado é a inflamação aguda da articulação. A reação inflamatória aguda regride espontaneamente em cerca de 10 a 14 dias. Nos intervalos entre as crises, os tofos continuam a crescer e ficam circundados por uma cobertura de macrófagos, que secretam citocinas e enzimas. Essa reação inflamatória crônica é responsável pela erosão dos ossos e das cartilagens e causa doença articular degenerativa secundária. Quando há degeneração significativa das cartilagens, o paciente desenvolve artrite crônica com sintomas idênticos aos causados pela osteoartrite primária. Embora a maioria dos pacientes com gota não tratada evolua para gota tofácea crônica, a evolução clínica varia expressivamente de caso a caso. Enquanto alguns pacientes têm apenas uma ou duas crises de artrite aguda durante toda sua vida, mais de 80% têm um segundo episódio nos primeiros dois anos depois do primeiro. É muito raro que um paciente sem história de artrite gotosa aguda desenvolva tofos. O primeiro episódio de artrite gotosa aguda geralmente acontece cerca de 10 a 30 anos depois de iniciar a hiperuricemia assintomática e não existem evidências de que ocorra lesão de qualquer outro sistema do organismo durante este intervalo. Em geral, a primeira crise acomete apenas uma articulação e, em 50% dos casos, o primeiro episódio envolve a primeira articulação metatarsofalangiana. Outras articulações acometidas comumente no estágio inicial da gota são articulações da região intermediária do pé, tornozelo, calcanhar e joelho. Os punhos, os dedos e os cotovelos são as articulações acometidas nos casos típicos com doença mais avançada. A intensidade da dor é tal que os pacientes não conseguem sequer sustentar o peso do lençol do leito sobre a parte afetada e a maioria acha difícil ou impossível caminhar quando a crise aguda afeta os membros inferiores. A crise aguda pode vir acompanhada por febre, calafrios e mal-estar. O eritema cutâneo associado à crise aguda pode estender-se além da articulação afetada e causar um quadro semelhante ao da celulite. À medida que a crise regride, pode ocorrer descamação da pele. Os sinais e sintomas regridem rapidamente com tratamento adequado, mas ainda que não seja tratada, a crise aguda cura espontaneamente dentro de uma a duas semanas. Com a regressão da crise, os pacientes entram no intervalo conhecido como “período intercrítico”, quando ficam absolutamente assintomáticos. No início do período intercrítico, os episódios de artrite não são frequentes e os intervalos entre as crises variam de meses a anos. Com o transcorrer do tempo, as crises tornam-se mais frequentes, o início é mais gradativo, a duração é maior e há tendência de acometer mais articulações.
FONTE: CURRENT Reumatologia (John B.Imboden; John H. Stone)
2- Após um jejum prolongado, o organismo passa por adaptações metabólicas significativas. Durante esse período, a glicose sanguínea diminui, e o fígado desempenha um papel crucial na manutenção da glicemia. Ele converte glicogênio em glicose por meio da glicogenólise e também sintetiza glicose a partir de precursores não glicídicos, como aminoácidos e lactato (gliconeogênese). Além disso, os ácidos graxos armazenados nos adipócitos são mobilizados e oxidados para fornecer energia ao corpo.
Já em relação ao consumo excessivo de álcool o álcool é metabolizado principalmente no fígado pela enzima álcool desidrogenase (ADH) e, posteriormente, pelo sistema microssomal do citocromo P450 (CYP2E1). Esses processos geram acetaldeído, uma substância tóxica, que é então convertida em acetato pela enzima aldeído desidrogenase (ALDH). O acetato pode ser utilizado como fonte de energia ou convertido em ácidos graxos. No entanto, o excesso de álcool pode sobrecarregar o fígado, levando à esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado) e, em casos extremos, à cirrose. O excesso de NADH devido ao consumo alcoólico, vai inibir a gliconeogênese.
Quando o álcool é consumido em jejum, ele chega mais rapidamente à corrente sanguínea. Isso ocorre porque a maior parte do álcool é absorvida pelo intestino delgado, e o esvaziamento gástrico é mais rápido quando o estômago está vazio. Como resultado, o pico de concentração de álcool no sangue é mais elevado e os efeitos secundários, como calor, desinibição, alteração dos reflexos e descoordenação de movimentos, podem atingir o clímax entre 30 minutos e 2 horas após o consumo.
Por outro lado, quando o álcool é consumido após uma refeição, os efeitos secundários são minimizados. O esvaziamento gástrico é mais lento, e o pico de concentração no sangue é mais moderado. Além disso, o consumo de alimentos pode ajudar a controlar o pico de concentração de álcool. No entanto, bebidas destiladas (como genebra, vodca ou rum) produzem um pico mais agudo do que bebidas fermentadas (como cerveja e vinho).
FONTE: Bases da Bioquímica molecular - Aline Sampaio Cremonesi
3- Colchicina é destinado ao tratamento das crises agudas de gota e na prevenção das crises agudas nos pacientes com artrite gotosa crônica.
A colchicoterapia pode ser indicada na Febre Familial do Mediterrâneo e em casos de escleroderma, poliartrite associada à sarcoidose e psoríase.
A Colchicina é eficaz no tratamento clínico da Doença de Peyronie nos casos com tempo de evolução inferior a um ano, atuando na redução do processo inflamatório que vai dar origem à placa fibrosa. Não tem seu uso bem estabelecido nos casos com longo tempo de evolução, quando a placa de fibrose já está plenamente formada.
A Colchicina é um alcaloide derivado do Colchicum autumnale que interfere nas funções do citoesqueleto celular pela inibição da polimerização da β-tubulina em microtúbulos, inibindo a ativação, a degranulação e a migração dos neutrófilos associados com a mediação dos sintomas da gota. Na Febre Familial do Mediterrâneo, a Colchicina pode interferir com a montagem do inflamassomo presente nos neutrófilos e monócitos que medeia a ativação da interleucina (IL)-1β.
O uso da Colchicina na Doença de Peyronie deve-se a sua capacidade de diminuir a síntese de colágeno e ativar a colagenase, além de suprimir a liberação de fatores de crescimento e de citocinas inflamatórias.
O alopurinol é usado para prevenir crises de gota e outras condições associadas com o excesso de ácido úrico no corpo, entre elas, pedras nos rins e certos tipos de doença renal. O alopurinol pertence a um grupo de medicamentos chamados inibidores enzimáticos, que agem controlando a velocidade com que modificações químicas especiais ocorrem no corpo. O alopurinol atua reduzindo a produção de ácido úrico, que é sintetizado pelo nosso organismo. O tempo médio estimado para início da ação farmacológica do medicamento é de uma a duas semanas (efeito máximo).
Fonte: Bula do Medicamento
4- O ácido úrico é uma substância produzida naturalmente pelo organismo humano. Ele se origina da digestão das proteínas, especialmente das purinas, presentes em alimentos como carne vermelha, peixes e frutos do mar. Após esse processo, parte do ácido úrico permanece no sangue, enquanto o restante é eliminado principalmente pelos rins, através da urina. Embora níveis elevados de ácido úrico não causem sintomas na maioria das pessoas, estão associados ao desenvolvimento de complicações como gota e pedras nos rins. O exame do ácido úrico é indicado para avaliar a função renal, acompanhar o tratamento da gota e identificar condições de saúde, como a síndrome de lise tumoral. Valores normais de ácido úrico no sangue variam de 3,7 a 8,0 mg/dL em homens após os 16 anos e de 2,7 a 6,1 mg/dL em mulheres após os 13 anos. Portanto, compreender o metabolismo do ácido úrico é fundamental para a saúde e o diagnóstico de doenças relacionadas a essa substância.
Fonte: Bases da Bioquímica molecular - Aline Sampaio Cremonesi
5- O consumo excessivo de álcool por um longo período de tempo pode causar icterícia, que é o amarelecimento da pele e dos olhos. Isso ocorre devido à presença de bilirrubina no sangue. A bilirrubina é uma substância produzida naturalmente no organismo humano como resultado da quebra de glóbulos vermelhos (hemácias) envelhecidos ou danificados. Essa substância é um componente importante da bile. Existem dois tipos principais de bilirrubina: Bilirrubina indireta (não conjugada): Essa forma é insolúvel em água e viaja pelo sangue até o fígado. Lá, ela é convertida em bilirrubina direta. Bilirrubina direta (conjugada): Após o processamento no fígado, a bilirrubina indireta se torna solúvel em água e é excretada na bile. Quando o fígado está danificado ou não funciona adequadamente, a bilirrubina pode vazar para a corrente sanguínea. Isso pode resultar em icterícia, caracterizada pelo amarelamento da pele, dos olhos e de outras partes do corpo. A icterícia ocorre porque a bilirrubina não é processada e excretada normalmente, acumulando-se nos tecidos. A conexão entre o álcool e a icterícia começa a ser observada no segundo estágio da doença hepática alcoólica, a hepatite alcoólica. Nessa fase, o fígado inflama à medida que o álcool faz com que pare de metabolizar gorduras, proteínas ou hidratos de carbono.
Fonte: Bases da Bioquímica molecular - Aline Sampaio Cremonesi